Megaeventos Esportivos, Copa América e Futebol na pandemia

Coletivo Alicerce
3 min readJun 2, 2021

Por Vinicius Brasil

O futebol enquanto manifestação cultural no Brasil historicamente conquistou o povo Brasileiro que com sua irreverência e habilidade no trato com a bola transformou essa cultura esportiva, elitizada em seus primórdios, num grande espetáculo de massas. No entanto, ao passar dos anos a arte de chutar a bola com os pés se profissionalizou, campos de várzea deram origem a estádios e arenas, jogadores de vilas e favelas viraram atletas profissionais, estrelas da bola, e, o mundo dos negócios capitalistas inverteu a lógica dessa cultura atrelada antes ao lazer e tempo livre, em uma mercadoria que precisa garantir os lucros dos grandes empresários do esporte.

O anúncio da realização da Copa América no Brasil, não é apenas um tapa na cara do brasileiro, como bem disse o comentarista Luís Roberto, no programa esportivo bem-amigos, mas também o fortalecimento de uma lógica destrutiva que reforça o desprezo e ganância das autoridades políticas e empresariais contra os trabalhadores.

Lógica essa que reforça a expropriação do jogo de futebol das amplas massas trabalhadoras que viram meros espectadores e consumidores da indústria esportiva.

Aliás, a realização de megaeventos esportivos, em plena pandemia, subordina ainda mais o esporte mundial à tutela dos chamados Senhores dos Anéis, apelido dado aos cartolas do COI e da FIFA por Vyv Simson e Andrew Jennings, jornalistas que investigaram as relações de poder, dinheiro e drogas nas olimpíadas modernas.

Esta lógica esportiva empresarial que guia a realização da Copa América no Brasil está expressa nas maiores e mais poderosas ligas esportivas. A NBA formou uma bolha para os atletas do basquete estadunidense a fim de conter o avanço da pandemia no contexto local. O Comitê Olímpico Internacional junto ao governo do Japão pretende manter as Olimpíadas de Tóquio, mesmo com o país vivendo uma quarta onda de contágios, baixa taxa de vacinação e 70 % da população contrária à realização dos jogos. Por mais que autoridades olímpicas locais reforcem os protocolos de segurança com testagem em massa, isolamento de atletas e proibição de torcedores estrangeiros no país, as autoridades médicas japonesas rechaçam a realização do torneio dado ao agravamento da pandemia.

Os megaeventos esportivos tornaram-se um verdadeiro cavalo de Tróia para as populações dos países sede.

Para termos uma ideia somente à realização da copa do mundo no Brasil em 2014 consumiu 30 bilhões de reais dos cofres públicos, em Tóquio, o governo japonês já definiu o orçamento olímpico equivalente a 66 bilhões de reais, em que a quebra de contrato com o cancelamento dos jogos irá fazer os custos recair sobre a população japonesa que assim como a brasileira paga rigorosamente seus impostos.

No mundo dos negócios junto aos megaeventos esportivos do COI, FIFA e confederações filiadas, como a CONMEBOL, o lucro é certo, independente do interesse popular os cartolas ignoram os problemas do povo e aliam-se a governos ávidos por popularidade e fama para concretizar a realização dos lucros.

O futebol brasileiro refém da CBF, dos patrocinadores e dos monopólios midiáticos retornou ainda no fim de 2020, sem torcida nos estádios e alimentando o contágio por covid-19 em grande escala. Os casos de corona vírus em jogadores de futebol e equipes técnicas são altíssimos e comparados ao número de casos em profissionais da saúde que trabalham diretamente com a população infectada.

Dito isto, ainda podemos afirmar que o povo brasileiro é apaixonado por futebol, mas diante o sofrimento de 460 mil famílias que perderam seus entes queridos é impossível dizer que este esporte que está nos sendo apresentado, sem torcida nos estádios, alheio a situação geral da população é o Futebol de tempos atrás que atraía adultos, crianças e idosos para confraternizar uma partida de futebol seja no estádio ou no campinho do bairro.

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Coletivo Alicerce

“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.” (Rosa Luxemburgo)